quinta-feira, 26 de novembro de 2009

E a saga continua

Chefe- É sempre o mesmo problema com todos os Phd. Querem sempre fazer apresentações maiores.
Eu- Então se calhar está na altura de os professores aceitarem isso e deixarem os alunos apresentarem o seu trabalho decentemente.
C.- Não, os professores não querem ouvir mais que 15 minutos. Aborrecem-se. E esse tempo chega perfeitamente.
Eu- Como é que 15 minutos podem chegar para mostrar 3 anos de trabalho, se ainda por cima se exige uma introdução ao tema de 5 minutos?
C. Na Polónia é assim e pronto.
Eu- Eu não concordo.
C.- Não tens que concordar, tens que fazer assim e acabou.
E mai nada... E acho piada aos outros dois de ontem a dizerem que estava demasiado complicado para eles entenderem. Deiam-me mais tempo e eu explico tudinho...
Alguns de vocês poderão passar que é exagero meu. A verdade é que estando por fora não faço ideia de como isto soa a quem está por fora, mas se fosse em Portugal eu poderia falar durante 45 minutos, o que seria perfeito. Andar 3 anos a escravatar resultados para depois não os poder mostrar no juizo final, é como preparar um espectaculo de 2 horas e ser chamada a fazer 5 minutos.
Acho que a palavra é frustrante! Muito!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

The polish way

Hoje aconteceu algo engraçado que penso que mostra a mais pura essência polaca. Obvio que vou generalizar, mas obvio também é que isto não se aplica a todos. Os polacos têm uma têndencia natural para exagerar. Tudo é em grande, seja bom ou mau. Se puderem evitar fazer algo, não o fazem, nem que seja levantar o rabo da cadeira para fechar uma janela.
Na semana passada foi-me dito pela chefe que esta semana teria um ensaio da minha apresentção. As Indicações foram claras: "vão lá estar todos os professores do departamento, vão-te fazer notar coisas menos boas na tua apresentação e sobretudo vão fazer imensas perguntas para testar o teu conhecimento. Já sabes o que as pessoas perguntam sempre mais sobre a parte da biologia e dos ratinhos e dos testes em humanos, por isso lê muito e prepara-te."
Depois de lhe ter chamado n nomes mentalmente, lá perguntei: se isto é algo tão importante, para o qual tenho que me preparar quase como se fosse já o dia final, por que raio é que só sou informada com menos de uma semana de antecedência? Havia mil respostas aceitáveis para esta pergunta, e ela escolheu a que eu mais esperava vindo dela... ah, esqueci-me!
Lá tive que preparar tudo mais ou menos a correr. O pior mesmo foi ter passado o fim de semana inteiro a ler um livro sobre reactores que ela me aconselhou, e que só domingo à noite percebi que se tivesse ido à wikipédia teria aprendido o mesmo e em 2h.
Finalmente chegou o dia... hoje. Sentia-me preparada como se fosse a discussão final. Mas não estava definitivamente preparada para a situação que me esperava. A apresentação correu bem só achei que fazia muito eco no vazio daquela sala preenchida com... 3 pessoas! Uma delas a minha chefe!
E os outros dois, entre o professor nervoso que olhava para o relógio de 2 em 2 minutos e o outro mais jovem que não parava de bocejar... não sei o que foi pior. As perguntas essas... não as vi... nem ouvi. Fizeram alguns comentários claro. Quase que foram obrigados a isso, pois seriam eles ou ninguém. E de entre os comentário não consigo escolher o favorito entre o "não gosto muito do fundo, acho que deveria ser branco" e o "acho que devias adicionar o nome do departamento no primeiro slide".
Houve ainda o "acho que a apresentação está demasiado completa, devias cortar coisas". Isto é a minha defesa de doutoramento e está demasiado completa??? E o senhor continuou dizendo "eu percebo que queiras mostrar tudo o que fizeste, mas nestas coisas tens que fazer um sumário". E eu respondi "Isto está longe de ser tudo o que eu fiz e já é um sumário". Ele viu isto como um desafio e pediu-me para ir slide por slide para ele me dizer onde eu podia cortar. Chegamos ao ultimo slide e... nada! Ele não conseguiu cortar nada! I told you so...
Quando todos saíram e fiquei sozinha naquela mesma sala estava mais frustrada que nunca. Não só não me tinham ajudado em nada, como ainda tinha modificações para fazer com as quais discordo absolutamente. E não foi assim que eu imaginei a minha apresentação. Penso que acima de tudo deveria ser uma coisa personalizada, ao meu estilo.
Na verdade quem me conhece pode adivinhar o que vem a seguir. Os riscos são para correr, e o meu estilo vai continuar a estar lá. Se é demasiado vivo e energético para os polacos? Quero lá saber. Depois desse dia não os vou voltar a ver e pode ser que aprendam a dissolver aquelas nuvens cinzentas que os rodeiam todos os dias.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Contagem decrescente

Houve uma altura que cada vez que ia acontecer algo eu fazia uma contagem decrescente no messenger. Não sei bem porquê mas deixei-me disso. Deixou de ter piada. Além disso nesta altura podia fazer tantas contagens decrescentes que não havia espaço para tudo!
T=-1 dia para o ensaio geral (é, aqui faz-se um ensaio geral da apresentação final para toda a gente. O meu é amanhã!!)
T=-3 dias para terminar o meu contrato (Iuupi)
T=-7 dias para eu fazer anos (os que acertarem onde vou passar este dia ganham chocolate polaco. Pista: é muuuuiiito fácil!)
T=-x dias para a minha defesa!!! (é segredo...)
T=-22 dias para deixar a Polónia de vez!
T=-3 meses para mudar de país!!!! E não, não é Portugal.
E já chega...

Migração Polaca


Confesso que nunca tinha assistido aos movimentos migratórios dos polacos. Por motivos de força maior (tinha que estender a roupa), hoje tive que vir a casa durante o horário de trabalho. Quando voltei à universidade estavam o caos e a loucura instalados nas ruas! Um molho de gente a sair da universidade, os carros faziam fila, até na rua principal havia transito!!! Que loucura, pensei! Parecia que tinham sido abertas as portas das celas na cadeia. Ao ver aquele ar de felicidade na cara dos polacos, lembrei-me logo que eram 3h da tarde! Depois de atravessar o parque de estacionamento, subir ao 4º andar e chegar ao gabinete dou-me conta que eram nessa altura... 14h55.
A isto se chama pontualidade polaca!

domingo, 22 de novembro de 2009

Edimburgo (outra vez?!?!?!)

Já começo a ser chata... raio da cidade. Cada vez que lá vou gosto mais e mais. Na primeira visita achei que tinha ficado tudo visto. Da segunda vez pensei exactamente o mesmo. E não é que na terceira não me cansei de ver coisas novas? Desta vez tive algum tempo sozinha e transformei-me num turista típico. Fui a museus, ao castelo, comi o pequeno-almoço escocês, e molhei-me... claro.
Adoro aquelas ruas e aquela sensação de estar numa cidade encantada. Não tão encantada como Oxford, mas ainda sim muito misteriosa. O we will rock you estava por lá e eu fui ver (outra vez!). Se pudesse via-o todas as semanas. Adoro a história e a maneira comos as canções são interpretadas. O Ricardo Afonso, português que foi durante cerca de dois anos a estrela principal já foi substituído e tive pena de não o ver novamente. Achei que ele era melhor que o seu substituto.
Além disso foram as habituais Sagres, no pub pequenino naquela esquina, onde eles só vão quando eu lá estou e ainda... bacalhau com natas! Sim, um bacalhau muito viajado que veio de Portugal para aqui, e depois voou para Edimburgo.
Foi o máximo! E choveu muito pouco!
Castelo de Edimburgo
Vista sobre a cidade
Boneca feita a partir de um sapato velho. Museu da Infância (gírissimo!)
A pior cerveja que já provei, mas que segundo me consta se deve beber pelo menos uma vez na vida... por causa do copo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Primeiro de Novembro

O 1º de Novembro é celebrado na Polónia com ainda mais intensidade que em Portugal. No fim de semana anterior toda a gente vai para o cemitério limpar as campas e os caminhos em volta. No próprio dia, enfeita-se tudo com flores e sobretudo muitas velas. Obvio que isto proporciona o negócio e nas várias portas para o cemitério montam-se tendas para vender não só flores e velas, como também rebuçados, bolos e até sandes. A minha casa fica próxima e pude observar as pessoas que pareciam formigas, nos passeios, em filinha, cheias de sacos a dirigirem-se para lá. Tentei chegar lá perto, mas a multidão de gente era que nem na feira de manhazinha e desisti.
O que não deixei de fazer foi de ir lá ao cair da noite. Sim, fui sozinha e não, não tive medo! O cemitério neste dia fecha mais tarde e mesmo à noite está cheio de gente. Quando fica escuro vêm-se então as centenas de pontos luminosos, que são as velas. Há quem diga que já não é o que era. Que há uns anos atrás se acendiam muito mais velas e que parecia um mar luminoso. Ainda assim, vale a pena ver e admirar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Outono em Szczecin




Cerimónias e mais cerimónias


Os polacos adoram festas, cerimónias e qualquer outra desculpa para não trabalhar (um pouco à semelhança dos portugueses). No entanto penso que aqui eles gostam mais de hierarquias e só na universidade há um sem numero de posições que não existem em mais lado nenhum. Como tal, pelam-se por uma boa cerimónia de entrega de prémios, diplomas ou qualquer coisa que sirva para mostram o quanto são bons ou evoluiram.
Tal como em Évora, uma vez por ano existe a entrega de diplomas. Fomos todos convidados a assistir e lá fui eu. Esperava encontrar algo semelhante a Portugal, já que a maioria vai buscar diplomas que já ganhou há meses. Mas não! Claro que não! Havia coro! Havia palco! Havia fatiotas catitas! E não estou a falar dos convidados. No palco havia cadeiras e no chão uma passadeira... verde (deve ter desbotado). O reitor, vice reitor, e reitorzinhos (sao estes os cargos que não existem aí) entraram pela porta traseira, passaram na passadeira verde, com o seu ar sério e com fatiotas engraçadas. Claro que a do reitor era a melhor, e o senhor vestia nada mais nada menos que... pele de coelho! A cor das vestes também varia com a importância e todos tinham um chapéu com 3 bicos. Não me contive a rir... so me faziam lembrar elves com as suas orelhas pontiagudas! Então com aquele are serio, a fazer um discurso sério... e com orelhas de elves. Cada diplomado tinha também uma veste preta e o mesmo chapeu engraçado.
O reitor também tinha um bastão decorado na mão (deve ter sido usado para matar os coelhos das peles) e a cada diplomado ele tocava com o bastão no ombro em sinal de benção.
Fartei-me de rir com alguns, pois o senhor era baixinho e às vezes lá tinha que se esticar todo. Mas admiro o seu ar e postura superior que nunca largou, nem sequer em bicos de pés. Os primeiros 5 minutos foram engraçadissimos, mas aquilo durou mais de 1h e nós em pé já estavamos que nem podiamos.
Se soubesse que ia ser tão engraçado teria levado a maquina fotográfica. Mas não fazia ideia...