Hoje houve festa lá na universidade o que significa sempre vinho, pizza e bolo à borla. Um jovem professor de 75 anos casou-se e decidiu celebrar com todo o staff, o que inclui os estudantes de doutoramento. Eu acho bem convidar toda a gente, mas como fica sempre alguém lá no canto da memória por convidar, ele esqueceu-se de convidar a nova mulher. Digo eu, já que era festa de casamento... E é neste tipo de festas que eu reparo como esta sociedade se comporta. Como se dividem entre os que eles consideram bons e maus. Ou bons e melhores. É inexplicavel, mas aqui, as pessoas não se misturam. O espaço é composto por duas salas. Para uma vão os professores e para a outra os estudantes e tecnicos. Rigorosamente falando! Pois os dois técnicos, já com os seus 60 e tal anos, que até eu pensava que eram professores, pois no trabalho tudo se mistura, tiveram que comer na nossa mesa e ouvir as nossas parvoices. Caso ainda mais grave. Um dos professores, o único que eu realmente gosto e admiro, nunca se importou em obter o grau de professor. No entanto dá aulas como os outros, tem orientandos, dá palestras, vai a conferencias, etc. Ou seja, é professor como todos os outros mas sem o grau. A diferença maior é que ele realmente trabalha. Os dias que se arrastam até mais tarde, depois de muitos deixarem a uni às 15h e os restantes às 17h, sobramos sempre os dois! E nunca me sinto sozinha por causa dele. Porque nem precisamos de falar. Eu ouço o teclado dele e ele ouve o meu. E ele é sem dúvida o único professor que não é presunçoso e que não tem a mania das grandezas. Pois também ele se juntou ao nosso lado, na nossa sala.As secretárias... a que está há mais tempo juntou-se aos professores, pois eles precisam de alguém para servir o vinho. A mais nova, fico claro do nosso lado, por não ter ainda a "categoria" soficiente para lidar com tão ilustres personagens.E foi isto que me irritou mais? Não... porque isto eu já tinha presenciado antes. Em outros encontros e celebrações como esta. O que me irritou mais foi falar com o meu colega de grupo e perceber que os planos dele são ir para um país onde ganhe muito dinheiro, pois tem que sustentar a namorada, que jamais vai querer (nem ele vai deixar) trabalhar. Tornar-se especialista em nanotecnologia (palavras dele traduzidas à letra) e voltar como o grande expert da coisa para ser o melhor da Polonia. Porque aqui senão se disser que se é o melhor não conta. Tal como a minha chefe me disse mal eu cheguei. Que este grupo é um dos melhores grupos da europa nesta área. Hoje... quase 3 anos depois a única coisa que me ocorre dizer a isso é ahahahah. No ínicio achei que eles diziam estas coisas para impressionar os outros. Para impressionar que não sabe. Quem não entende. Tal como eu o poderia fazer, que não faço, ao meu avô. Aos meus pais. Às velhotas lá da aldeia que ainda não entendem que raio é isso de ser cientista. Mas com o passar do tempo aprendi que não. Que eles acreditam mesmo nisso. Acreditam que são os melhores do mundo em algo! Acreditam MESMO! Poderemos critica-los? Não sei... já pensaram na sensação de acordar de manhã e pensar... hmmmm sou o melhor do mundo! Mesmo que não se seja... que importa?Bem, a conversa aqueceu quando eu disse que não iria ganhar tanto no Brasil e ele responde: "que mais dá. Tu és mulher, não tens que ganhar tanto". Quem me conhece pode imaginar perfeitamente que me saltou a tampa, fiquei vermelha de fúria e argumentei de modo bruto. Expliquei-lhe que eu jamais vou viver às custas de um homem. Que não gosto de ser tratada como uma princesa. Que não gosto que me abram a porta do carro. Que não gosto que me recusem num jogo de futebol só porque sou mulher. E ele abriu a boca de espanto... "não sabia que havia pessoas assim..."E não, não é só ele que pensa assim... é uma comunidade inteira. A culpa é dos homens? Não, as mulheres também preferem assim! A culpa nem sequer é de ninguém. Como ele me explicou, ele aprendeu assim com os pais. Foi educado assim. E é assim que pensa... Não sei se é para rir, ou para chorar. Mas não posso evitar o alivio que sinto ao pensar que me resta pouco tempo por aqui. Foi muito engraçado e diferente. Mas já chega...Desculpem o enoooorme post, mas foram anos a fazer estas observações e anos a acumular a fúria por cada vez que uma ave destas me aparecia à frente.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Tens a certeza de que estás na Polónia??? Esse filme de repente pareceu-me Portugal.
Eu também achava que Portugal era um país de machoes e de senhoras a condizer... mas mudei de ideias qundo vim para cá. Aqui as coisas são como o eram em Portugal há 40 anos atrás!
Esses são daqueles que quando lhes falas em inglês começam a ficar nervosos e por vezes engasgam tipo VW Carocha de 1961.
Também conheço desses bananas que andam a dar o litro para a namorada se pintar e fazer compras, não lhes importa o intelecto, a cultura e a personalidade, o que interessa é que seja "ładna"...
Bom proveito, que verguem a mola!!!
Acredita que ando mesmo a encher o saco de certas coisas neste paises...
Nem me fales! Há coisas que eu já não suporto mesmo. Estou mesmo muito feliz por me ir embora daqui a 3 meses. Já chega...
Esqueci-me de acrescentar que esse tipo de gajas (sim, gajas) têm um objectivo na vida... serem "Madames"...
Ser Madame é terem uma conta bancária com milhares de polónios para gastarem nos centros comerciais e fazerem inveja às amigas, um SUV ou um Jeep com vidros escurecidos e matrícula personalizada tipo "EO KASIA" e uma casa ou apartamento de sonho - em crédito - pois claro.
O otário entretanto vai pagando tudo e elas depois queixam-se que se sentem sozinhas, que o marido nunca está em casa para lhes fazer companhia (pois, está a trabalhar para pagar as contas do estafermo).
Como a idade e a força da gravidade não perdoam (e a concorrência é atroz) acontece amiúde que o banana começa a procurar um modelo novo, com menos quilómetros, menos exigências, com muita vontade de ter sexo, ou seja, outro estafermo que exige no mínimo 10.000 PLN/mês (isto dos 10.000 PLN é verdade!).
Ora perante a concorrência começa uma nova fase da vida das "Madames"; o Botox, as operações plásticas, os lábios de silicone tipo cu de burro, as mamas plásticas, as lipo-aspirações, os SPA e ginásios, massagens tailandesas, termas etc...
Deixa lá que pelo andar da carruagem também me ponho na alheta, já esteve mais longe e começo a ficar cansado do gelo... ;)
Sem pôr nem tirar! É tal e qual como descreveste!
Também reconheço essa raiva interior que vai crescendo com o passar dos anos aqui. É engraçado nos primeiros tempos, mas depois tudo perde a piada...
Força aí! E se te cansares de vez o mundo é muito grande ;)
Enviar um comentário